quarta-feira, 27 de agosto de 2008


O Papel dos Pais na Formação Leitora dos Filhos



Um das reclamações mais freqüentes de pais, c/ filhos em idade escolar, é a de que as instituições de ensino, públicas ou privadas, populares ou burguesas, não têm dado uma resposta adequada e, em tempo hábil, às crianças que sofrem c/ as dificuldades de leitura e de escrita no ensino fundamental. As dificuldades lectocritoras atingem todos que estão nos bancos escolares.
A escola ainda não responde, eficazmente, ao desafio de trabalhar c/ as necessidades educacionais das crianças especiais, especialmente às relacionadas c/ as dificuldades de linguagem como dislexia, disgrafia e disortografia.
São os distúrbios de letras déficts que preocupam os pais porque sabem que o sucesso escolar de seus filhos depende, e muito, da aprendizagem eficiente da leitura, escrita e ortografia.
As causas das deficiências lingüísticas são muitas, mas a tese de que a escola é uma fábrica de maus leitores não deve ser descartada como a mais importante em se tratando de etiologia das patologias ou distúrbios de letras.
A escola, não se deu conta que ensinar bem é favorecer à memória de longo prazo das crianças para que, na última etapa da educação básica, quando jovens, tenham desempenho eficiente na hora de ler um livro ou de escrever um texto para concurso ou vestibular.
Em geral, os alunos c/ dificuldades específicas de lectoescrita, já no final do primeiro ciclo do ensino fundamental, fazem a troca dos fonemas simétricos: t/d, f/v, b/p. Muitos pais, sem uma resposta eficaz da escola, procuram, fora do ambiente escolar, profissionais como fonoaudiólogos, pediatras, neurologistas e psicopedagogos na busca de superação do problema.
Com a ajuda desses profissionais que se dedicam à reeducação lingüística, diagnóstico e intervenção, o problema da dislexia, disgrafia ou disortografia, é amenizado, compensado, mas não significa a superação definitiva dos distúrbios.
O professor, principal agente do processo reeducador, deveria ou deve ser o mais aplicado, o mais qualificado, nas questões referentes à pedagogia da lectoescrita.
Sem um trabalho consistente da escola, as trocas de letras simétricas, por ex., tendem a persistir por toda vida escolar. Em alguns casos, claro, c/ menos freqüência. Outros, uma síndrome que acompanhará a criança, o jovem e o adulto por toda sua vida.
É necessário o trabalho de reeducação lingüística, isto é, formar a consciência fonológica dos sons da fala. Ensinar bem as vogais e as consoantes da língua materna. É esta consciência fonológica ou lingüística que fará com que a criança, ao escrever palavras com letras simétricas (p, b, p, q), pense e repense sobre o processo da escrita alfabética.
Certo é dizer para pais e educadores ou, para todos profissionais que operam com diagnóstico e intervenção psicolingüística, que a partir de 8 ou 9 anos de idade e, já no final do primeiro ciclo do ensino fundamental, é importante que estejam atentos quanto aos defeitos de leitura e de escrita das crianças.
A troca de fonemas, ainda nessa fase, reflete, muitas vezes, uma deficiência de ordem lingüística, na formação lingüística inicial (alfabetização e letramento) da criança.
Muitos de nossos alfabetizadores, em que pesem os anos de experiência, o esforço exemplar, a dedicação ao magistério, têm deficiência de formação. Claro, a má instrução é involuntária. Todavia, traz conseqüências sérias para o processo leitor.
Uma escola que ensina, por exemplo, termos, no sistema lingüístico do português, apenas 5 vogais, estão dando as bases precárias, de ordem cognitiva, para a leitura eficiente, o que acaba por levar o educando à aquisição de uma dislexia pedagógica.
Sabemos que são 12 vogais (7 orais e 5 nasais). Vogais são os sons da fala. Vogais não são letras. Vogais são fonemas, isto é, unidades sonoras distintivas da palavra. Vogais têm a ver com a leitura. As letras, que representam as vogais ou sons da fala, têm uma estreita relação com a escrita.
Não obstante, a escrita não é espelho da fala. Como se diz, não é necessariamente como se escreve. Não há uma correspondência biunívoca entre fonema ou som da fala com a escrita, com os grafemas.
Nos casos em que crianças apresentam, insistentemente, a troca de letras, podemos supor, por exemplo, uma dificuldade por motivação fonológica.
Os pais devem estar atentos quanto à articulação desses fonemas:
Estão sendo bem articulados por seus filhos na fala espontânea ou na leitura de textos escolares?
Então, se não estão, que tal um trabalho com as cordas vocais, para que os percebam a diferença quanto à sonoridade ?
Os pais, com ou sem formação superior, devem ter o hábito de abrir as gramáticas escolares que, quase sempre, trazem regras pouco claras.
Desse modo, os pais não devem ter qualquer cerimônia para abrir uma gramática ou um dicionário escolar na tarefa coadjuvante de ensinar a língua materna.
Aos filhos, com dislexia escolar, pode um pai ou mãe (ou mesmo um irmão mais velho) abrir a Gramática, na parte relativa à fonologia, e ver o quadro das consoantes da língua portuguesa.
Observará a família, lendo as gramáticas escolares, como são classificadas quanto ao modo e ponto de articulação. Deve articular cada consoante. Olhar para seu filho ou filha. Pedir para que olhe o movimento de seus lábios quando articulam fonemas em algumas palavras do cotidiano (papai, bola, caderno, faca, tarefa etc).
Pedir também que imitem sua articulação é um modo antigo, mas interessante de aprender. Há um ditado latino que diz: a repetitio studiorum mater est (A repetição é mãe do conhecimento). A repetição acaba por levá-los, assim, à consciência dos fonemas.
Um pai ou uma mãe que assim se disponha a ensinar, mesmo não sendo um(a)pedagogo (a) ou lingüisto(a) de formação, poderá, com esse procedimento, ajudar na formação leitora de seus filhos.
Por fim, sempre desconfiemos do que pode estar ocorrendo na formação escolar dos filhos.
A escola precisa devolver à criança a competência lingüística e metalingüística, para que cumpra ( a escola) o papel de desenvolver a capacidade do educando de ler para aprender, de escrever para aprender, de aprender a aprender.
Ensinar bem é ensinar com simplicidade, com objetividade. Aliás, a ciência da linguagem, a lingüística, se caracteriza pela explicação e descrição claras dos fenômenos da linguagem.
Nas ruas, as crianças não aprenderão informações lingüísticas. Farão, claro, hipóteses, extraídas, quase sempre da fala espontânea. É nas escolas, com bons professores, que aprenderão que essas informações lhes darão habilidade para a leitura e para a vida fora da escola.
Nos lares, a tarefa de reforço do que se aprender na escola se constitui um complemento importante, desde que os pais se sintam parte do processo.
Aliás, a educação escolar, de qualidade, é um dever das instituições de ensino. Doutra, dever, também, compartilhado por familiares e co-responsabilidade dos que operam com os saberes sistemáticos, que envolve a sociedade como um todo.

Um comentário:

Profe Márcia disse...

Passei para uma visitinha e adorei conferir a material.
Excelente texto.
Beijocas
Márcia - Blo Espaço da Criança