Como contar histórias?
Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras...Contar uma história é uma arte... e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz.
Daí que quando se vai ler uma história para a criança, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante... E aí, no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias), empacar ao pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar, mostrar que não percebeu o jeito como o autor construiu suas frases e ir dando as pausas nos lugares errados, fragmentado um parágrafo porque perdeu o fôlego ou fazendo ponto final quando aquela idéia continuava, deslizante, na página ao lado.
Pior ainda, ficar escandalizado com uma determinada fala, ou gaguejar ruborizado porque não esperava encontrar um palavrão, uma palavra desconhecida, uma gíria nova, uma expressão que o adulto-leitor na ousa normalmente.
Mas claro que não é apenas no terreno da leitura das palavras que a dificuldade pode surgir... E o conteúdo da história, as relações entre as personagens, as mentiras que ela pode colocar, os preconceitos que pode passar, a fragilidade duma narrativa onde não acontece absolutamente nada??? Por isso, ler o livro antes, bem lido, sentri como nos pega, nos emociona ou nos irrita...Assim, quando chegar o momento de narrar a história, que se passe a emoção verdadeira.
A ensaísta cubana Alga M. Elizagaray diz que : “O narrador tem que transmitir confiança, motivar a atenção e despertar admiração. Tem que conduzir a situação como se fosse um virtuose que sabe seu texto, que o tem memorizado, que pode permitir-se o luxo de fazer variações sobre o tema.”
Claro que se pode contar qualquer história à criança: comprida, curta, de muito antigamente ou dos dias de hoje, contos de fadas, de fantasmas, realistas, lendas, histórias em forma de poesia ou de prosa... Qualquer uma, desde que ela seja bem conhecida do contador.
Como aproveitar o texto:
1. Evitar as descrições imensas e cheias de detalhes;
2. Saber usar as modalidades e possibilidades da voz;
3. Saber começar o momento da contação;
4. Mostrar à criança que o que ouvir está impresso num livro.
Ouvir histórias não é uma questão que se restrinja a ser alfabetizado ou não.. Afinal, os adultos também adoram ouvir uma boa história,passar noites contando causos, horas contando histórias pelo telefone, por querer partilhar com outros algum momento que não tenham vivido juntos.
Antes de começar é bom pedir que se aproximem, que formem uma roda para viverem algo especial. Que cada um encontre um jeito gostoso de ficar: sentado, deitado, não importa como...cada um a seu gosto...E depois, quando todos estiverem acomodados, aí começar “Era uma vez...”
Ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!
E mesmo as crianças maiores, que já sabem ler, também podem sentir grande prazer no ouvir...Afinal, não ouvem discos, não escutam rádio: “Não devíamos esquecer nunca que o destino da narração de contos é o de ensinar a criança a escutar, a pensar e a ver com os olhos da imaginação. A narração é um antiqüíssimo costume popular que podemos resgatar na noite dos séculos, mas nunca tecnificá-la com elementos estranhos a ela. Usar “slides” ou qualquer outro meio de ilustração e distração é interferir e neutralizar a sua mensagem, que é sempre auditiva e não visual.” (Alga M. Elizagaray)
Ouvir histórias é viver um momento de gostosura, de prazer, de divertimentos dos melhores.. É encantamento, maravilhamento, sedução...O livro da criança que ainda não lê é a história contada. “Quando uma criança escuta, a história que se lhe conta penetra nela simplesmente, como história. Mas existe uma orelha detrás da orelha que conserva a significação do conto e o revela muito mais tarde.” Louis Paswels.
Pré-Leitura – Incentivação
Na escola pode ser feito um trabalho para levar a criança a se interessar pelo tema da leitura através de canções, expressão corporal, dança, observação, contato com a realidade. Como exemplo desta última sugestão, temos que: se a história fala em água, é possível, em sala de aula, conversar sobre a água, sua utilidade. Se a história fala em animais, pode-se fazer um levantamento dos animais que as crianças conhecem...
O professor pode perguntar que livros as crianças já leram e o que acharam. Também poderá ler uma poesia que tenha alguma relação com o tema da história. È possível ainda criar a hora da novidade: embrulhar um objeto que tenha a ver com a história. Deixar que as crianças toquem, apalpem e cheirem. A partir daí, o professor começa a contar a história. Poderá ainda ter uma conversa informal com as crianças. Falar e deixar as crianças falarem tudo o que sabem sobre o personagem da história. Trazem objetos que representam algo da história ou do personagem ou da coisa mesma. Por exemplo: se vou contar a história do gatinho ou do passarinho, trazer um gatinho ou um passarinho etc.
Outros recursos podem ser: uma caixinha de surpresa, a adivinhação e a imaginação para levar a criança, através da capa do livro, a contar uma história. Depois, o professor pergunta: vocês querem conhecer a história que o autor contou?
Outras abordagens vão depender da criatividade e/ou experiência dos participantes.
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